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O Edifício das Lameiras: O Edifício das Lameiras, ou Complexo Habitacional das Lameiras, pertence à Freguesia de Antas (S. Tiago) e Abade de Vermoim, uma das cinco que constituem o núcleo urbano da cidade de Vila Nova de Famalicão, é constituído por 290 habitações, distribuídas do seguinte modo: 30 – T0, 80 – T2, 120 – T3 (dúplex) e 60 T4 (dúplex). Também fazem parte do empreendimento 30 lojas comerciais e as instalações sociais da Associação de Moradores das Lameiras. Trata-se de um quarteirão, que é confrontado a nascente com a Rua da Associação de Moradores das Lameiras, a Norte com a mesma Rua, a Poente com a Avenida Marechal Humberto Delgado e a Sul com a Alameda Francisco de Sá Carneiro. O nome Lameiras nasce do lugar onde foi construído, a antiga “Quinta das Lameiras”. Um espaço situado na zona nascente da cidade, meio abandonado, muito húmido, onde desaguava o ribeiro de Talvai, hoje canalizado até ao Rio Pelhe.
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Construção atribulada: O início da sua construção remonta aos anos de 1978, numa altura em que os governantes da época decidiram investir na habitação social, criando para o efeito o então FFH – Fundo de Fomento da Habitação, mais tarde designado de IGAPHE – Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado, já extinto. A construção deste Aglomerado Habitacional em pleno centro urbano da cidade de Vila Nova de Famalicão, foi motivo de muita discussão pública, na altura, tendo sido fomentadas duas correntes de opinião – uma contra e outra a favor. No entanto o Edifício foi mesmo construído e com ele toda a polémica então gerada. A firma vencedora do concurso (ex-Opercal) faliu antes de dar a obra por concluída, tendo havido necessidade de recorrer a outra empresa para a conclusão da mesma. Só no primeiro semestre de 1983 é que o Edifício passou a ser habitado, se bem que, já nos últimos dias de 1082, três famílias tenham sido alojadas, ainda sem água nem luz. Pela Páscoa de 1983, já o Edifício estava, na sua grande maioria habitado. Nesse dia, já que nenhuma das entidades envolvidas na construção tinha tomado a iniciativa da sua inauguração, os próprios moradores, em colaboração com a Paróquia de S. Tiago de Antas, tomaram a iniciativa de assinalar o Dia de Páscoa, como o Dia do Edifício, com a celebração de uma missa campal. Desde então, até aos dias de hoje essa celebração tornou-se numa tradição. O Edifício nunca foi inaugurado, porque as autoridades de há 35 anos atrás estavam cientes de que a construção tinha sido de má qualidade e uma inauguração naquela altura iria revoltar os moradores.
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Processo de integração na cidade: De imediato os residentes foram notando uma série de lacunas nos materiais de construção civil utilizados. Muitos deles receberam as casa com fissuras nas paredes, penetração de humidades e portas de interior colocadas no exterior. As crianças eram mais de 500 em idade escolar. Não havia escola que as acolhesse a todas, tendo de ser repartidas pelas duas escolas primárias da cidade mais próximas do novo aglomerado habitacional, sendo muitas delas discriminadas só por morar nas Lameiras. Entretanto, no ano seguinte – Maio de 1984 – formou-se a Associação de Moradores das Lameiras, que começou, de forma organizada e persistente, a conduzir todas as reivindicações dos moradores, relacionadas com as lacunas encontradas. Dos pré-fabricados, onde funcionaram os estaleiros das empresas que construíram o Edifício das Lameiras, nasceu a escola primária das Lameiras. A luta prosseguiu e passados oito anos, em 07 de Maio de 1993, foi inaugurada uma nova escola de raiz, a funcionar de forma modelar na Rua da Associação de Moradores das Lameiras . Esta escola não serve apenas o complexo habitacional , mas toda a zona nascente da cidade de Famalicão.
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A reabilitação do Edifico: Nos anos de 1989 e 1990 o Edifício foi reabilitado, passando a ostentar, na parte exterior uma outra fisionomia, mais moderna e digno da cidade que o viu nascer. No entanto algumas lacunas continuaram por resolver, como a infiltração de humidades, a deterioração de tubagens no abastecimento de água, iluminação pública, logradouro deteriorado, manutenção dos equipamentos colectivos, entre outros. Havia necessidade de uma intervenção mais profunda. Assim, em Dezembro de 1997, foi assinado em Lisboa, na sede do IGAPHE, um convénio com a Associação de Moradores das Lameiras, que permitiu uma série de intervenções sincronizadas com as duas instituições que vieram dar uma nova imagem ao interior do Complexo Habitacional das Lameiras. Com a tomada de posse do novo Governo, em 2002 e a definição de novas políticas para habitação, deu origem à fusão do IGAPHE com o INH, passando parte do seu património para as câmaras municipais, tendo o Edifício passado para a Câmara de Vila Nova de Famalicão em Maio de 2004. Deste modo, o Convénio como IGAPHE e esta Associação foi dado por terminado em Dezembro de 2002. Ao receber do IGAPHE o Edifício em Maio de 2004 a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, assinou um Acordo de Colaboração com a Associação de Moradores das Lameiras, para a gestão do Complexo Habitacional, pondo fim a um periodo que nada dignificou aquele espaço. Com a assinatura deste Acordo foi possivel, nos anos seguintes, proceder a uma série de intervenções no Edifício e espaços envolventes que vieram dignificar aquele espaço habitacional e melhorar a qualidade de vida de todos os residentes.
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Morar nas Lameiras – sinal de qualidade de vida: Em 1983 morar nas Lameiras era motivo de exclusão, quer nos estudos, quer no emprego. Hoje viver neste lugar é viver numa comunidade com um percurso de vida e objectivos comuns. Isto não quer dizer que nas Lameiras não existem problemas. Eles estão lá, como em todos os outros locais de habitação, com uma agravante: algumas vezes, um pequeno problema, torna-se num grande problema, porque é comentado pelos cerca de 1000 residentes. No entanto, na sua grande maioria, os Moradores quando falam do seu local de habitação, falam com orgulho, apresentando motivos de satisfação, alegria e orgulho por viverem num local digno, arrumado e asseado. O que era exclusão, passou a ser inclusão, todos usufruem de um novo estatuto social, como cidadãos de pleno direito, não só da cidade mas do mundo. Muitas vezes, grupos de cidadãos estrangeiros, que visitam Famalicão, em delegações de outras Associações ou da Autarquia, pernoitam em casa de diversas famílias das Lameiras. Os residentes das Lameiras, com poucas excepções, tornaram-se mais acolhedores, participativos e amigos de ajudar os que têm mais dificuldades. Ainda há caminhos a percorrer, barreiras para vencer, mas com o dinamismo da AML, a colaboração da Câmara Municipal de Famalicão e da Segurança Social, as Lameiras serão sempre uma referência muito positiva para o meio onde estão inseridas.
Por fim, o Centro Social das Lameiras, inaugurado em 2003, com os seus 400 utentes e toda a zona envolvente a este complexo habitacional e social, onde se situam ainda: a Central de Camionagem de Vila Nova de Famalicão, Pavilhão Municipal das Lameiras, Escola das Lameiras, a CESPU com a sua Escola Superior de Saúde do Vale do Ave e o Parque da Devesa inaugurado em Setembro de 2012, parque este que passou a integrar o Complexo Habitacional das Lameiras e o Centro Social das Lameiras.